Dia das Mães
O dia das mães deveria ser todos os dias.
Amanhã se comemora o dia das mães aqui no Brasil... apenas
mais uma data comercial, mas sendo esse dia a nós dedicado, eu ofereço à todas
aquelas que são mães, foram, ou serão, de que forma forem, este belíssimo texto
de Lya Luft, que traduz em palavras todo o sentimento de mãe que levo no meu
coração!
Recebam todas vocês o meu carinhoso abraço!
“Que nossa vida, meu filhos, tecida de encontros e
desencontros, como a de todo mundo, tenha por baixo um rio de águas generosas,
um entendimento acima das palavras e um afeto além dos gestos – algo que só
pode nascer entre nós. Que quando eu me aproxime, meu filho, você não se
encolha nem um milímetro com medo de voltar a ser menino, você que já é um homem.
Que quando eu a olhe, minha filha, você não se sinta criticada ou avaliada, mas
simplesmente adorada, como desde o primeiro instante.
Que, quando se lembrarem de sua infância, não recordem os
dias difíceis (vocês nem sabiam), o trabalho cansativo, a saúde não tão boa, o
casamento numa pequena ou grande crise, os nervos à flor da pele – aqueles dias
em que, até hoje arrependida, dei um tapa que ainda agora dói em mim, ou disse
uma palavra injusta. Lembrem-se dos deliciosos momentos em família, das risadas,
das histórias na hora de dormir, do bolo que embatumou, mas que vocês,
pequenos, comeram dizendo que estava maravilhoso. Que pensando em sua
adolescência não recordem minhas distrações, minhas imperfeições e
impropriedades, mas as caminhadas pela praia, o sorvete na esquina, a lição de
casa na mesa de jantar, a sensação de aconchego, sentados na sala cada um com
sua ocupação.
Que quando precisarem de mim, meus filhos, vocês nunca
hesitem em chamar: mãe! Seja para
prender um botão de camisa, ficar com uma criança, segurar a mão, tentar fazer
baixar a febre, socorrer com qualquer tipo de recurso, ou apenas escutar alguma
queixa ou preocupação. Não é preciso constrangerem-se de ser filhos querendo
mãe, só porque vocês também já estão grisalhos, ou com filhos crescidos, com
suas alegrias e dores, como eu tenho e tive as minhas. Que independendo da hora
e do lugar, a gente se sinta bem pensando no outro. Que essa consciência faça
expandir-se a vida e o coração, na certeza de que aquela pessoa, seja onde for,
vai saber entender; o que não entender vai absorver; e o que não absorver vai
enfeitar e tornar bom.
Que quando nos afastarmos isso seja sem dilaceramento, ainda
que com passageira tristeza, porque todos devem seguir seu caminho, mesmo que
isso signifique alguma distância: e que todo reencontro seja de grandes abraços
e boas risadas. Esse é um tipo de amor que independe de presença e tempo. Que
quando estivermos juntos vocês encarem com algum bom humor e muita naturalidade
se houver raízes grisalhas no meu cabelo, se eu começar a repetir histórias, e
se tantas vezes só de olhar para vocês meus olhos se encherem de lágrimas:
serão apenas de alegria porque vocês estão aí. Que quando pareço cansada vocês
não tenham receio de que eu precise de mais ajuda do que vocês podem me dar:
provavelmente não precisarei de mais apoio do que do seu carinho, da sua
atenção natural e jamais forçada. E, se precisar de mais que isso, não se
culpem se por vezes for difícil, ou trabalhoso ou tedioso, se lhes causar susto
ou dor: as coisas são assim. Que, se um dia eu começar a me confundir, esse
eventual efeito de um longo tempo de vida não os assuste: tentem entrar no meu
novo mundo, sem drama nem culpa, mesmo quando se impacientarem. Toda a
transformação do nascimento à morte é um dom da natureza, e uma forma de
crescimento.
Que em qualquer momento, meus filhos, sendo eu qualquer mãe,
de qualquer raça, credo, idade ou instrução, vocês possam perceber em mim,
ainda que numa cintilação breve, a inapagável sensação de quando vocês foram
colocados pela primeira vez nos meus braços: misto de susto, plenitude e
ternura, maior e mais importante do que todas as glórias da arte e da ciência,
mas sério do que as tentativas dos filósofos de explicar os enigmas da
existência. A sensação que vinha do seu cheiro, da sua pele, de seu rostinho, e
da consciência de que ali havia, a partir de mim e desse amor, uma nova pessoa,
com seu destino e sua vida, nesta bela e complicada terra. E assim sendo, meus
filhos, vocês terão sempre me dado muito mais do que esperei ou mereci ou
imaginei ter.”
À você, que é o
começo de tudo.
Foto: Meus filhos Marcelo e Mariana / Arthur neto (filho da Mariana)
Foto: Meus filhos Marcelo e Mariana / Arthur neto (filho da Mariana)
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